terça-feira, 22 de maio de 2012

Ciro Pessoa na cena roqueira

Cantor e guitarrista já foi do Titãs, mas é bom averiguar seus outros trabalhos


Para quem não é aficionado pelo rock dos anos 80 pode ouvir o nome de Ciro Pessoa e só pensar que ele já pertenceu aos Titãs. Para essas pessoas, é bom enfatizar que o músico fez parte da banda Cabine C.

O Cabine C teve uma vida curta,apenas um ano, mas não menos importante do que o resto dos grupos que circulavam na cena roqueira. Com elementos gótico, a banda, que tocava no underground, teve seu primeiro, e único disco gravado pelo selo RPM Discos, projeto idealizado e administrado por Paulo Ricardo e Luiz Schiavon. 

Chamado Fósforos de Oxford, o álbum contém 11 faixas, sendo uma delas "Tão Perto", a música que fez parte do disco "The Sexual Life of the Savages", uma compilação de músicas do  movimento pós-punk brasileiro, de 2005.

O  fim do Cabine C foi eminente, após a gravação do segundo trabalho de estúdio, que nunca foi lançado. Mas Ciro Pessoa continuou a tocar em outras bandas CPSP (Ciro Pessoa e Seu Pessoal) e Ciro Pessoa & Banda Ventilador.Porém foi em 2003, que o cantor e guitarrista lançou seu primeiro disco solo, " No meio da chuva eu grito Help". Já em 2010, ele lançou seu segundo trabalho da carreira, "Em dia com a Rebeldia"

De Verminose à Magazine

Primeiro compacto do grupo Magazine: 200 mil cópias vendidas

Em meio aos punks ativistas e do subúrbio de São Paulo, estava Antônio Carlos Senefonte, mais conhecido como Kid Vinil, pseudônimo que passou a usar a partir de novembro de 1979, quando estreou como locutor em seu programa na Excelsior FM, que falava sobre as novidades do punk e da new wave. “Não contei para ninguém que estava apresentando o programa, para não parecer blasé com o pessoal da periferia”.

Kid se envolveu com o punk rock ainda quando tocava guitarra no grupo AI-5, uma das primeiras bandas do gênero, em 1978, mesmo ano em que começou a trabalhar na gravadora Continental. Depois que o grupo acabou, Kid formou, junto com Trinkão, colega da gravadora, e Lu Stopa, amigo de Trinkão, a banda Verminose, marcada pelo som rockabilly e punk. Em um dos primeiros shows que o grupo fez no Teatro Lira Paulistana, os punks danificaram parte do local. O motivo seria uma entrevista que Kid deu à revista Veja – os mais radicais adeptos ao movimento pregavam a resistência à imprensa e nunca davam entrevistas.

Depois de conceder entrevista a Veja, Kid Vinil ficou conhecido como o maior traidor do movimento punk e, por vezes, recebeu ameaças de morte. “Nunca fui do tipo revolucionário. Gostava da música punk, mas o discurso não me dizia nada. Sempre me cobraram uma posição política, mas eu queria era entretenimento, o ritmo, o riff”, explicou Kid ao jornalista Ricardo Alexandre, no livro Dias de Luta, de 2002.

O guitarrista da Verminose, Ted Gaz, não queria continuar como uma banda punk e os outros integrantes, inclusive Kid, já estavam desgastados com a sucessão de ameaças que o público punk fazia. O grupo Verminose, então, foi renomeado de Magazine, e o som mudou do punk e rockabilly para a new wave. O Magazine foi marcado pelo humor nas letras e pelos figurinos coloridos e divertidos. 

Paulicéia Desvairada

A vida breve do Paulicéia Desvairada - uma das primeiras danceterias da década de 80


Cada geração elege quais serão os seus ícones e símbolos que irão representá-la. Tais ícones e símbolos são escolhidos porque traduzem o comportamento, ou seja, são a “cara” da geração. Na década de 80 isso não foi muito diferente. Muitas casas noturnas foram abertas e acabaram se tornando esses símbolos.

As casas noturnas passaram a diversificar suas programações e além de abrirem espaço para as bandas, introduziram na noite apresentações e vídeos, performances artísticas, apresentações teatrais e DJs que discotecavam através das pick-ups.

No começo da década de 80, Nelson Motta foi para Nova York visitar Júlio Barroso (futuro fundador do Gang 90 & As Absurdettes) que estava passando uma temporada por lá. Júlio levou Nelson para conhecer o Ritz, uma nova casa noturna da cidade onde se apresentava a banda Kid Creole and the Coconuts, nova sensação de Nova York. Nelson Motta saiu do show extasiado e cheio de ideias. Quando voltou para o Brasil, resolveu abrir uma casa noturna aos moldes do Ritz. Foi atrás de Ricardo Amaral que já era megaempresário da noite paulistana e lhe fez a proposta. Ricardo Amaral topou e assim surgiu o Paulicéia Desvairada.

A Paulicéia Desvairada foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1980, um dia trágico para o rock mundial, dia do assassinato de John Lennon. Júlio Barroso operava a cabine de som e tudo o que rolou de música na festa. Sucesso total. Júlio Barroso, apesar de ser carioca, provavelmente foi o primeiro DJ de São Paulo que se tem conhecimento, pelo menos depois da época das discotecas nas décadas de 60 e 70 e que recebeu essa nomenclatura.

As noites corriam bem e animadas no Paulicéia Desvairada com Júlio Barroso nas pick-ups. Mas com dificuldades financeiras e problemas se acumulando, em menos de um ano o Paulicéia Desvairada fechou suas portas.

Para entender o que é o BRock

O rock brasileiro dos anos 80 ainda dá o que falar para os críticos musicais

Indo direto ao ponto: o BRock é um termo criado pelo jornalista Arthur Dapieve para abarcar o rock brasileiro dos anos 80. Além do rock deste período ter possuído enorme espaço na mídia e os shows se transformarem em estruturas com mega-produção, para críticos e músicos, o rock dos anos 80 produzido no Brasil se distingue das outras décadas por ser uma representação daquela juventude.
“Segundo roqueiros e críticos, o rock foi adotado como principal ‘manifestação jovem’ nos anos 80 devido a influência que a ‘atitude’ do-it-yourself exerceu sobre esta geração” assim descreve o sociólogo Júlio Naves Ribeiro em seu livro Lugar Nenhum ou Bora Bora.


Essa atitude do-it-yourself (faça-você-mesmo), que provém do movimento punk anglo-americano dos anos 70, se ancora numa reação e desprezo aos arranjos musicais e letras mais elaboradas e herméticas do rock progressivo.
“Era um novo rock brasileiro, curado da purple-haze psicodélica-progressiva dos anos 70, livre das letras metafóricas e instrumental state-of-the-art, falando um português claro de coisas comuns ao pessoal de sua própria geração” define Dapieve no seu livro BRock: O rock brasileiro dos anos 80.


É isso ai. Para quem se interessou, aqui foram citadas duas ótimas fontes para entender a importância desse rock brasileiro oitentista.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O Rock in Rio transformou o show de rock no Brasil

Em 1985 acontecia o primeiro grande festival internacional de rock no país 


Mesmo ocorrendo lá para as bandas cariocas, o evento do Rock in Rio reconfigurou a estrutura de show perante o país inteiro. Pela primeira vez o país recebeu artistas do pop/rock de renome internacional como James Taylor, Queen, Rod Stewart, Nina Hagen, Yes, Iron Maden, Pretenders, B-52s e AC/DC. Também apresentaram-se os artistas nacionais que emergiram na década de 80, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Blitz, Kid Abelha e Lulu Santos e os roqueiros de outras gerações. O evento teve altíssima repercussão na mídia e foi um divisor de águas para o rock brasileiro.


“O Rock in Rio se tornou a grande coqueluche para a mídia brasileira – a Rede Globo o transmitiu diariamente em versões editadas, com os melhores momentos – e alçou de vez o rock como ‘modismo’ no país.” definiu o sociólogo Julio Naves Ribeiro.
O evento não contou com a participação dos grupos paulistas, mas o rock aumentou ainda mais seu espaço na mídia brasileira e os shows se transformarem em estruturas com mega-produção. A parte ruim: não houve mais espaço para as danceterias e assim elas fecharam. A banda paulista RPM, por exemplo, era tietada por milhares de fãs, com a realização de show enormes e milhões de discos vendidos. 
O vídeo abaixo, uma reportagem especial de 1986, começa com uma qualidade, mas logo melhora a ponto de percebemos a estrutura montada para o RPM:


O que ninguém sabe sobre o Madame Satã

Para entender um pouco mais do porque a casa foi considerada o templo do underground em São Paulo

Já falamos aqui um pouco sobre o Madame Satã em um texto resumido sobre sua existência. Recém lançado, o documentário “Madame Satã – O Importante é Ser Eu e Não o Outro” narra com detalhes e depoimentos o que rolava nas noites da casa, seus principais personagens, histórias e fatos.
Quando Wilson José, Willians Silva, Miriam e Márcia Dutra resolveram montar o então Restaurante Cultural Madame Satã não sabiam da dimensão que o que estavam fundando iria virar. O que era para ser um “restaurante” passou a ter shows, performances artísticas, apresentações teatrais, intervenções, exposições e muito mais. A última coisa que os frequentadores faziam era ir ali para comer.
O Madame Satã conseguia reunir no mesmo ambiente punks, góticos, mods, darks, a galera moderna da new wave, gays, lésbicas, travestis e qualquer outra tribo que surgisse na época.
A década de 80 foi libertadora para a juventude que vinha sendo pressionada por conta da Ditadura Militar instaurada no país, então o momento foi uma explosão para todas as áreas da arte. Não irei prolongar em palavras o que documentário, com ótima trilha sonora, explica.



A identidade do rock paulista dos anos 80

Gang 90 e As Absurdettes: um dos primeiros grupos new wave do Brasil

O que destacava o rock produzido em São Paulo dos outros estados no início dos anos 80 era a mistura de diferentes subgêneros que, juntamente com outros aspectos, formaram a identidade do cenário roqueiro paulista do início década. As bandas paulistas que iniciaram suas atividades entre 1980 e 1981, e ajudaram a caracterizar o rock de São Paulo ao longo da década, foram Gang 90 e As Absurdettes, Agentts, Verminose (que se tornaria Magazine), Azul 29, Voluntários da Pátria e Ira.

Na década de 80, os locais em que as bandas se apresentavam em São Paulo, que se dividiam em discotecas e casas de show, eram a maneira primordial de divulgação das bandas, e constituíam um aspecto especial, que tornava o circuito roqueiro paulista uma ferramenta eficaz de exposição até mesmo para grupos de outros estados do Brasil. Em 1983, por exemplo, o Capital Inicial seguiu os passos das bandas brasilienses Legião Urbana, Finis Africae e Escola de Escândalos, e foi para São Paulo.

Em São Paulo, as bandas frequentavam o circuito formado pelo Teatro Lira Paulistana, porão localizado na Vila Madalena, pela butique Kaos Brasilis, e por bares como Calabar, Pierrô Lunar e Pub Vitória. Em 1984, quando os espaços começaram a não dar mais conta de tantas bandas que surgiam, tampouco do público que queria vê-las de perto, surgiram as danceterias, muitas: Madame Satã, Carbono 14, Rose Bom Bom, Napalm, Rádio Clube, entre outras.  

O tecnopop paulista

Agentts e Azul 29 foram duas bandas que se destacaram
Influenciado por grupos como Devo (EUA) e Kraftwerk (Alemanha), o grupo Agentts produzia sonoridades muito parecidas com as do tecnopop europeu da década de 80. Kodiak Bachine nos teclados e sua vocalização de fonemas que lembravam máquinas, que chamava de “eletrotranzlyrics”.

Assim como o Agentts, o Azul 29 também produzia músicas tecnopop. As duas bandas, assim como Ultraje a Rigor e Ira, chamaram a atenção do produtor Pena Schmidt, que lançou o compacto do Agentss em 1983, com “Professor Digital” e “Cidade Industrial”. Quando o grupo se desfez, no mesmo ano, o guitarrista Eduardo Amarante passou a integrar o Azul 29, que lançou o compacto com “Metrópole” e “Olhar” e, em 1984, outro compacto com “O Teu Nome tem Neon” e “Ciências Sensuais”. 


Vanguarda Paulista o movimento da independência

O movimento que surgiu no final da década de 1970 alavancou a produção musical independente no Brasil

Imagem do logo do Selo do Lira Paulistana
Nascido em 1979, a Vanguarda Paulista foi o nome dado por jornalistas e críticos de música ao processo de independência da música brasileira que durou até 1985, ou seja, os artistas se auto produziam e gravavam os seus próprios LPs, adotando a politica americana "Do It Yourself". Esse processo marca o surgimento de inúmeros selos responsáveis pelo lançamento das bandas que circulavam no circuito underground de São Paulo. 

Os principais selos são o Baratos & Afins e o do Teatro Lira Paulistana, esse último teve mais destaque no processo de gravação, já que também funcionava como palco para as bandas que começavam na carreira artística, ou aquelas que desejavam ficar na cena alternativa, como era o caso das bandas de Punk, como voluntários da pátria e inocentes.  Os principais representantes desse movimento foram, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e os grupos Premeditando o Breque e Língua de Trapo. 

sábado, 12 de maio de 2012

Manoel Poladian na cena roqueira


Empresario foi inserido no rock´n´roll após assinar contrato com RPM


Em 1980 muitos nomes foram importantes, e entre eles não poderia ser deixado de lado o do empresário Manoel Poladian. Dentre muitos artistas, Poladian trabalhou com Rita Lee, Roberto Carlos e Ney Matogrosso, este último teve papel importante ao entrelaçar o caminho do empresário e produtor com o da banda paulista liderada por Paulo Ricardo, RPM.


Ao procurar por mais um sucesso, o dono da voz do álbum Sujeito Estranho recomendou ao doutor em direito administrativo uma banda que a pouco fechara contrato com a CBS. O RPM para decolar na carreira precisava de mais visibilidade, o que não estava sendo tão crucial para a gravadora, e foi o que Poladian fez, ofereceu jogos de iluminação, dois caminhões, cenário e todo o resto para um "super show". "Era algo do tipo [faz voz de biliardário]: 'Ah, vocês vão se casar? Então pega ali um dúplex de cobertura mobiliado com home theatre e sauna seca'. A gente pegou", comenta Paulo Ricardo. (ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta.2002)

Mas apesar de ter um sucesso emplacado nas rádios, "Louras Geladas", a banda ainda precisava de certa produção , e assim Ney Matogrosso aceitou o convite de Poladian para tal feito. O cantor e agora produtor, passava horas diante daqueles garotos por volta dos 20 e poucos anos o que era a postura de palco. O trabalho não foi fácil, já que Ney devia ensina-los a cativar o público, que era muito maior do que eles estavam acostumados a tocar em casas como Madame Satã ou Clash. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

RPM na linha contrária


Banda dos anos 1980 teve seu começo de forma diferente das outras, primeiro foi atrás de patrocínio e depois surgiu como grupo musical

Ao contrario de todas as bandas que se tornaram conhecidas, o RPM começou a procura de gravadora antes mesmo de existir.

Na década de 1980, Paulo Ricardo cursava jornalismo na ECA-USP e escrevia artigos para revistas para o polo cultural, na mesma época sua paixão pelo baixo e a vontade de criar uma banda com Luiz Schiavon aumentava a cada dia. E enquanto eram apenas os dois fazendo música, Paulo Ricardo conheceu Marcos Maynard, diretor artístico da gravadora CBS, que ouviu uma fita demo deles, em 1982 Por terem um material ainda em construção, Maynard conclui que a melhor coisa a se fazer era deixar a porta aberta para a dupla quando estes tivessem preparados para uma carreira sólida.

Somente em 1985, é que com Fernando Deluqqui na guitarra, e a ainda participação de P.A Pagni na bateria, é que o RPM conseguiu finalmente sair do anonimato e se tornar uma das bandas mais conhecidas da época, com o lançamento do álbum Revoluções Por Minuto.